Viagem a Plutão

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Plutão em destaque nesta imagem captada pelo instrumento Long Range Reconnaissance Imager (LORRI) a bordo da sonda New Horizons, recolhida no dia 13 de Julho de 2015 quando a nave se encontrava a cerca de 768.000Km da superfície de Plutão. Esta é a última imagem detalhada captada pela New Horizons antes de atingir o ponto mais próximo da sua trajectória ao alvo da missão, Plutão, no dia 14 de Julho de 2015. Crédito da Foto: NASA/APL/SwRI

A nave New Horizons finalmente chega a Plutão, depois de uma viagem épica através do nosso Sistema solar.

Depois de uma viagem de uma década, a New Horizons passou  a apenas 7.750 milhas da superfície de Plutão, no dia 14 de Julho de 2015, sendo este o ponto mais próximo da sua trajectória em relação a este planeta-anão. Agora depois da histórica passagem por Plutão, a sonda seguirá para a Kuiper Belt e aí ajudará a desvendar os mistérios da fronteira do nosso sistema solar.

“A exploração de Plutão e as suas luas pela New Horizons é o culminar de 50 anos de exploração planetária da NASA e pelos Estados unidos da América,” disse o administrador da NASA Charles Bolden. “Uma vez mais conseguimos fazer história. Os Estados Unidos da América conseguem assim ser os primeiros a explorar Plutão, e com esta missão completa o estudo preliminar de todo o nosso sistema solar, um extraordinário feito que nenhuma outra nação foi capaz de realizar.”

Conforme planeado, nos momentos em que a nave se encontra em modo de recolha de dados, não pode contactar com os controladores da Johns Hopkins University Applied Physical Laboratory (APL) em Laurel, Maryland. Isto levou a que durante a passagem da nave por Plutão não se tivesse qualquer informação sobre o estado da nave ou se alguma coisa de errado se havia passado durante as quase 24horas de silêncio e exclusiva recolha de dados.

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Printscreen da Deep Space Network, quando a equipa da New Horizons enviou a “ordem” de virar a nave na direcção da Terra e enviar o “ping” com informações se a passagem da nave tinha ocorrido sem problemas. Crédito da Imagem: Joana Neto-Lima

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Printscreen da Deep Space Network, quando o “ping” da New Horizons chega à Terra (antena 63 de Madrid). Crédito da Imagem: Joana Neto-Lima

Ao fim do dia 14 de Julho, exactamente no intervalo esperado a New Horizons “ligou para casa” e durante 15 minutos e através da Deep Space Network (DSN) enviou informações sobre o estado dos seus sistemas e telemetria.

A história de Plutão começou há apenas uma geração (a 13 de Março de 1930), quando o jovem Clyde Tombaugh foi incumbido de encontrar o Planeta X, que teoricamente existia para lá da órbita de Neptuno. O que ele descobriu foi um ténue ponto de luz que agora podemos ver e reconhecer como parte de um complexo sistema planetário dentro do nosso próprio Sistema Solar.

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Placas fotográficas de Clyde Tombaugh (a seta branca marca Plutão) Créditos: “Pluto discovery plates”. Via Wikipedia – Link

“Plutão foi descoberto à apenas 85 anos por um jovem filho de agricultores do Kansas, inspirado por um cientista visionário de Boston, usando um telescópio em Flagstaff, Arizona.” disse John Grunsfeld, Administrador Associado para a NASA’s Science Mission Directorate (Directorado das Missões Científicas da NASA). “Hoje, a ciência dá um grande passo ao observar o sistema planetário de Plutão e ao poder atravessar a última fronteira que nos permitirá assim conhecer (melhor) as origens do Sistema Solar.”

A passagem da New Horizons por Plutão e as suas cinco luas (conhecidas até ao momentos em que escrevo este artigo) está a providenciar uma introdução à Kuiper Belt (para mais informação –> Kuiper Belt (Wikipédia – Português)). Devido à distância do Sol e à sua história de  formação, acredita-se que os corpos existentes na Kuiper Belt preservem em si pistas sobre as primeiras fases de formação do Sistema Solar a que chamamos casa.

New Horizons Flight Controllers celebrate after they received confirmation from the spacecraft that it had successfully completed the flyby of Pluto, Tuesday, July 14, 2015 in the Mission Operations Center (MOC) of the Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory (APL), Laurel, Maryland. Photo Credit: (NASA/Bill Ingalls)

Os Controladores de Voo da New Horizons celebram após receber confirmação que a passagem da nave pelo sistema planetário de Plutão foi um sucesso, no dia 14 de Julho de 2015, no Centro de Operações da Missão na Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory (APL), em Maryland. Crédito da Foto: NASA/Bill Ingalls

“A equipa da New Horizons sente-se orgulhosa de serem os primeiros a conseguir explorar o Sistema Planetário de Plutão.” declarou Alan Stern, o principal investigador da missão. “Esta missão conseguiu inspirar pessoas de todo o Mundo, ajudando a despertar o entusiasmo da exploração, mostrando o que a Humanidade consegue atingir.”

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Representação artística da New Horizons enquanto passa pelo sistema planetário de Plutão. Crédito da Imagem: NASA

A sonda New Horizons não entrará em órbita de Plutão, passará ao largo do planeta e do seus sistema planetário e seguirá a toda a velocidade para a Kuiper Belt, a equipa da missão optou Devido à velocidade a que a nave New Horizons se desloca (uns vertiginosos 30.000mph), qualquer partícula (de dimensões aproximadas a um bago de arroz) pode incapacitar a nave durante esta passagem. A New Horizons não possui partes móveis (a sua antena é fixa ao corpo), isto para evitar possíveis avarias e para diminuir o consumo de energia, faz com que para poder comunicar com a Terra a nave tenha de ser rodada na direcção do nosso planeta, fazendo com que os seus instrumentos deixem de estar apontados para o alvo da missão: Plutão. Por esse motivo é que tivemos de esperar quase 24horas para receber um ping de cerca de 15minutos (como referimos acima). Agora, e nos próximos 16 meses a New Horizons irá enviar tudo o que registou ao longo destes quase 10 anos, através da Deep Space Network, à “alucinante” velocidade de 1kb/s.

Mais Informação:
New Horizons (Página Oficial da missão/NASA – Inglês) –> Link

Deep space Network –> Link

Imagens RAW (sem tratamento) captadas pelo instrumento LORRI da New Horizons –> Link

Missão da NASA a Europa anuncia os instrumentos seleccionados

Representação artística da missão a Europa

NASA/JPL-Caltech

No passado dia 26 de Maio, numa conferência de imprensa, foram anunciados os nove instrumentos seleccionados para entrarem na fase de desenvolvimento, com o objectivo de integrarem a missão da NASA à Lua Europa. Neste momento, tendo em consideração os dados que sondas anteriores recolheram, Europa é o candidato mais prometedor para acolher vida ou possuir no seu oceano condições de habitabilidade que consigam manter vida ou fenómenos biológicos.

Desde que as leituras efectuadas pelos intrumentos da missão Galileo forneceram dados fortes que indicam a existência de um oceano de água líquida salgada por baixo da camada de gelo da lua Europa, que muitos cientistas e engenheiros começaram a orientar as suas investigaçoes para esta lua, que tem o tamanho aproximado da Lua que acompanha a Terra.

Neste oceano planetário, longe da chamada “goldilocks zone” (zona de habitabilidade que reúne proximidade ao sol do sistema planetário (a Terra está nem demasiado perto, nem demasiado longe do Sol e por isso recebe a quantidade ideal de energia solar para sustentar vida), a tradução do nome para português é “zona dos cachinhos dourados”), a existência de água líquida salgada, em contacto directo com a camada rochosa do manto e a enegia do aquecimento tidal provocado tanto pela Ressonância de Laplace como pela proximidade a Júpiter, torna Europa no candidado mais entusiasmante para procurar vida no nosso Sistema Solar, para além da Terra.

Quando o orçamento da NASA para 2016 foi anunciado, os 30 milhões de dólares atribuídosa uma missão a Europa destacaram-se, pois há anos que a ESA (Agência Espacial Europeia) trabalha numa missão ao sistema joviano e depois de muitas reformulações a NASA saiu do progrecto JUICE devido a restrições orçamentais, retirando também a sua parte do projecto e limitando em muito o estudo da lua gelada Europa.

Esta missão da NASA é composta por um orbitador movido a energia solar, serão efectuadas órbitas em torno do sistema joviano para se conseguirem órbitas mais próximas de Europa durante um período de três anos, num total de 45 órbitas entre 25 e 2.700km de distância da superfície gelada.

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Os intrumentos seleccionados incluem, muito resumidamente, câmaras e espectrómetros para produzir imagens de alta-resolução da superfície da lua e para determinar a sua composição. Um radar penetrará a camada gelada para determinar a espessura da camada e procurar, caso existam, lagos no gelo muito à semelhança do que ocorre na Antártida. Um magnetómetro servirá para medir o campo magnético, a sua orientaçao e intensidade, com esses dados pode-se calcular a profundidade e a concentração de sais no oceano líquido de Europa. Um sensor térmico permitirá a detecção de plumas planetárias e outro instrumentos servirão para detectar, identificar e quantificar as partículas que compoem a ténue atmosfera desta lua.

Todo o entusiasmo com esta nova missão a Europa começou no ano passado quando a NASA anunciou que procuravam propostas de instrumentos para estudar esta lua gelada, foram submetidos 33 projectos e finalmente, foram seleccionados estes nove que se tudo correr bem seguirão a bordo desta ambiciosa missão que tem lançamento previsto para meados da década de 2020.

De seguida segue uma listagem com os instrumentos seleccionados com uma brevíssima descrição da sua função:

Plasma Instrument for Magnetic Sounding (PIMS) –> Em conjunto com o magnetómetro ajudará a perceber a profundidade da camada de gelo, a profundidade do oceano e a salinidade deste.

Interior Characterization of Europa using Magnetometry (ICEMAG) –> Magnetómetro que trabalhará com o PIMS, caracterizará o campo magnético de Europa e ajudará a locazar o oceano líquido.

Mapping Imaging Spectrometer for Europa (MISE) –> Espectrómetro que ajudará a identificar e mapear a composição desta lua. Será um dos instrumentos chave para a determinação da habitabilidade de Europa.

Europa Imaging System (EIS) –> Camaras de alta resolução que irão mapear imagens da superfície desta lua com uma resolução até 100vezes mais do que as imagens obtidas até agora.

Radar for Europa Assessment and Sounding: Ocean to Near-surface (REASON) –> Radar que penetrando a camada de gelo servirá para caracterizar as camadas de gelo, funcionará provavelmente como o SHARAD.

Europa Thermal Emission Imaging System (E-THEMIS) –> Sensor térmico que ajudará a elaborar um mapa da distribuição de energia através de Europa. Com este instrumento poderemos detectar as tão elusivas plumas planetárias detectadas pelo Hubble em 2012.

MAss SPectrometer for Planetary EXploration/Europa (MASPEX) –> Espectómetro que irá identificar e determinar a composição da superfície gelada e do oceano debaixo da capa gelada de Europa, recorrendo a análises das partículas que compoem a atmosfera ténue de Europa e de qualqeur maeterial que tenha sido ejectaado a partir do interior (p.e. plumas planetárias).

Ultraviolet Spectrograph/Europa (UVS) –> Espectómetro de Ultravioleta, usando a mesma técnica que levou à detecção da pluma de água em Europa pelo Hubble Space Telescope, este instrumento será capaz de detectar qualquer pluma e providenciará dados sobre a sua composição e a dinâmica atmosférica de Europa.

SUrface Dust Mass Analyzer (SUDA) –> O instrumento mais entusiasmante de todos os que foram listados até agora, pois será capaz de medir a composição de pequenas partículas sólidas ejectadas de Europa, possibilitando assim a rara oportunidade de analizar directamente material da superfície ou de plumas planetárias, aquando de órbitas a baixa altitude, bem como confirmar as constribuições de Io ou Júpiter para a composição e dinâmicas geoquímicas na lua Europa.

Mais informação:
NASA (Inglês) –> Link
Europa (Português) –> Link

Yuri’s Night (A Noite de Yuri)

Yuri Gagarin

Yuri Alekseyevich Gagarin mais conhecido por Yuri Gagarin foi um um piloto e cosmonauta soviético. Foi o primeiro humano em órbita do planeta Terra quando a Vostok 1 completou a sua primeira órbita a 12 de Abril de 1961.

Vostok-1

Com essa primeira órbita Gagarin tornou-se uma celebridade global, e recebeu um sem nùmero de medalhas e condecorações, incluindo a condecoração Herói da União Soviética, a maior honra do seu país.

A Vostok 1 foi o único voo espacial de Gagarin, mas foi backup da tripulação da missão Soyuz 1 (que infelizmente resultou num acidente fatal). Gagarin tornou-se depois Director do Centro de Treino de Cosmonautas perto de Moscovo, que depois recebeu o seu nome.

Aos 34 anos Gagarin faleceu na consequência de um trágico acidente com o MIG-15 que pilotava. Apesar da prematura morte ainda hoje é um símbolo para todos os que se aventuram a conquistar o Espaço (um dos rituais dos astronautas e cosmonautas que partem do Cosmodromo de Baikonur é visitar o Cosmonaut Grove onde cada um planta uma árvore junto à árvore plantada por Yuri Gagarin em 1961 – Link)

A Noite de Yuri

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Este evento foi criado no ano 2000 por Loretta Hidalgo, George Whitesides e Trish Garner. A primeira celebração teve lugar no ano seguinte, exactamente 40 anos após o voo histórico da Vostok 1. Na Rússia, desde 1962 este dia é o Dia da Cosmonáutica.

O objectivo principal deste evento global (em que qualquer pessoa se pode juntar às celebrações e organizar algo no seu país ou cidade) é informar o público geral, em especial os mais novos, e aumentar o entusiasmo pelas ciências espaciais.

A edição de 2004, na cidade de Los Angeles foi uma noite especial que contou com a presença de Ray Bradbury (famoso escritor de ficção-científica, entretanto falecido), Dennis Tito (Turista Espacial na Soyuz-32) e Nichelle Nichols (Uhura na série de Star Trek)

Em Abril de 2011 celebraram-se os 50 anos do voo de Gagarin e nessa noite mais de 100.000 pessoas se juntaram em 567 diferentes eventos em 75 países. A tripulação da Expedição 27 da ISS (Estação Espacial Europeia) gravou um vídeo para assinalar a data e a Noite de Yuri directamente do Espaço.

Nesse mesmo ano foi disponibilizado de forma integral e gratuita o filme First Orbit, dirigido por Christopher Riley.
As imagens foram captadas pela tripulação da Estação Espacial Europeia seguindo o que Gagarin terá observado através dos portholes da Vostok em 1961 (a duração do documentário é a mesma que o voo de Gagarin).
Os realizadores conseguiram acesso aos arquivos de áudio originais da viagem de Gagarin, e utilizaram porções das conversas entre Gagarin e Sergei Korolev (o cientista principal do programa espacial soviético na data) no controlo na Terra. Aquando da montagem do vídeo com o audio, tentou-se respeitar ao máximo as horas e os minutos exactos a que cada comunicação foi feita (assim acompanhando a vista que Gagarin tinha do planeta à medida que o orbitava). O restante audio é propriedade da Radio Moscow que transmitiu a notícia ao mundo durante o voo, da BBC e da agência TASS (em russo – Agência Telegráfica da União Soviética).

Lanço aqui o desafio a quem gostar do Espaço para organizar um evento em Portugal, para colocar o nosso país no mapa das celebrações.

Mais Informação:

Yuri Gagarin (Português – Wikipédia) –> Link

50 anos da Viagem Histórica de Gagarin (2011) –> Link
First Orbit – Filme Integral –> Link
First Orbit (Português – Wikipédia) –  > Link

Que tempo faz em Marte?

Para aqueles que quando acordam pensam: qual será o tempo em Marte? Ou então para quem quando olha o pontinho vermelho no céu que é Marte, pensam como seria pisar o solo do nosso vizinho planetário existe uma aplicação do Centro de Astrobiología em Madrid para ajudar a tornar esse exerccício de imaginação em realidade: REMS Mars Weather.

O que é o REMS?

O REMS (Rover Environmental Monitoring System) é uma estação meteorológica construída pelo Centro de Astrobiología INTA-CSIC/NASA, financiada pelo governo Espanhol e que seguiu com o rover Curiosity ou MSL (Mars Science Laboratory) para Marte.

O REMS mede e fornece leituras diárias e relatórios sazonais da pressão atmosférica, humidade, radiação ultravioleta da superfície de Marte, direcção e intensidade do vento, temperatura relativa do ar e temperatura relativa do solo perto do rover Curiosity.

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Mais info: NASA REMS

A aplicação é completamente gratuita e está disponível para descarga, tanto no Google Play como na App store.

Screencap da app REMSREMS MARS Data app

Descrição da aplicação:

A aplicação REMS Mars Weather dá acesso, praticamente em tempo real, aos dados recolhidos pelo projecto REMS/MSL (Rover Environmental Monitoring System / Mars Science Laboratory, mais conhecido por Curiosity).

Esta app foi desenvolvida pela equipa REMS do Centro de Astrobiología em conjunto com o Strings Software Studio e os dados são os dados efectivamente recolhidos pela NASA para serem posteriormente utilizados nos trabalhos das diversas equipas científicas espalhadas pelo Mundo.

Com esta aplicação podemos acompanhar várias variáveis climatéricas do nosso planeta vizinho e comparar as varições ao longo dos sols (sol é o nome de um dia marciano, que é ligeiramente maior que um dia terrestre), com uma pequena explicação a acompanhar.

Dados a que se pode aceder através desta aplicação:
– Temperatura do ar (ºC, ºF, K)
– Temperatura do solo (ºC, ºF, K)
– Direcção e velocidade do vento (mph, m/s, Km/h)
– Pressão atmosférica (atm, mbar, Pa)
– Humidade Relativa
– Nascer e pôr-do-sol em Marte
– etc.

Entrevista Joana Neto Lima – uma portuguesa que procura sinais de vida noutros planetas

No dia 21 de Março foi publicada no site Aberto até de Madrugada uma entrevista sobre o trabalho que estou a desenvolver no Centro de Astrobiología em Madrid.

Centro de AstrobiologíaLink para a Entrevista

O único conselho para todos os que desejam perseguir uma carreira nesta área é: Nunca deixem de sonhar.

Este vídeo entitulado “We stopped dreaming” com um discurso do famoso astrofísico Neil deGrasse Tyson resume a importância da corrida espacial e das consequências de hoje em dia já não sonharmos com o futuro:

Tripla conjunção em Júpiter

Tripla conjunção Júpiter - Hubble

Três luas e as suas sombras desfilam em frente de Júpiter, nos momentos finais desta conjugação, no dia 24 de Janeiro de 2015. Europa acaba de entrar no enquadramento da foto na parte inferior esquerda, Callisto está acima e à direita de Europa , enquanto Io está quase a sair do enquadramento no canto superior direito.

No passado dia 24 de Janeiro, o telescópio espacial Hubble captou esta série de fotografias, que mostram uma rara conjução de três das luas Galileanas a passar em frente do grande planeta: Europa, Callisto e Io.

As Luas Galileanas, foram assim chamadas porque foram descobertas por Galileu Galilei (Simon Marius também as observou na mesma altura, os nomes que ele escolheu para cada uma das luas acabaram por ser os que ficaram para a história). É bastante comum observar os seus trânsitos na face de Júpiter ou as suas sombras projectadas nas nuvens que cobrem o planeta gigante, contudo observar três luas a transitar na face de Júpiter ao mesmo tempo é um evento muito mais raro, ocurrendo uma ou duas vezes numa década.

Luas Galileanas

Luas Galileanas – Io, Europa, Ganimedes e Calisto

Das luas galileanas só Ganimedes, a maior das quatro, não aparece nesta conjugação.

Nota: Estas imagens foram captadas no espectro de luz visível, ou seja, não foram sujeitas a tratamento posterior para revelar estas cores.

Em Abril celebram-se 25 anos desde que o telecópio espacial Hubble entrou em funcionamento, a NASA e a ESA estão a preparar uma série de actividades que posteriormente divulgaremos aqui.

Mais informação: NASA

Parabéns a Clyde Tombaugh, o astrónomo que descobriu Plutão

Hoje assinalamos o 109 aniversário do nascimento de Clyde William Tombaugh.

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Clyde Tombaugh com um telescópio improvisado na quinta da sua família no Kansas, USA

Clyde Tombaugh foi o astrónomo americano que descobriu o objecto trans-neptuniano Plutão [nota: ainda não perdoamos ao Neil deGrasse Tyson a promoção da desclassificação de Plutão como planeta], em 18 de Fevereiro de 1930, enquanto trabalhava no Observatório Lowell, no Arizona, USA.

Quando em Agosto de 1992, um dos cientistas do Jet Propulsion Laboratory da NASA, Robert Steele ligou a Tombaugh, pedindo permissão para visitar o “seu planeta”, o cientista já com 82 anos respondeu-lhe que era bem-vindo e que lembrou: “É bem-vindo, se bem que tem pela frente uma viagem longa e fria.”. Esta chamada levou ao lançamento da missão New Horizons em 2006.

Quando Tombaugh faleceu, cinco anos depois aos 90 anos, uma pequena porção das suas cinzas foram recolhidas e colocadas num pequeno contentor a bordo da sonda New Horizons, nele encontra-se a inscrição: “Interned herein are remains of American Clyde W. Tombaugh, discoverer of Pluto and the solar system’s ‘third zone’. Adelle and Muron’s boy, Patricia’s husband, Anette and Alden’s father, astronomer, teacher, punster, and friend: Clyde W. tombaugh (1906-1997)”

Hoje a equipa da New Horizons divulgou um par de imagens de Caronte e Plutão, tiradas a 25 e a 27 de Janeiro deste ano, com a seguinte mensagem:

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“Este é o nosso tributo de aniversário ao Professor Tombaugh e à sua família, honrando a sua descoberta e a sua vida – o seu trabalho foi o catalizador da astronomia planetária do século XXI. Estas imagens de Plutão, claramente mais brilhante e mais próximo do que as que a New Horizons captou em Julho do ano passado quando se encontrava ao dobro da distância, representam os primeiros passos de uma missão que irá transformar o pequeno ponto de luz que Clyde observou no Observatório Lowell há 85 anos, num planeta aos olhos do mundo neste Verão.” disse Alan Stern, do Southern Research Institute em Boulder, Colorado, o Investigador Principal da missão New Horizons.

Mais informações: NASA

Há 10 anos “aterrávamos” em Titã

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Há dez anos, neste mesmo dia a sonda da Agência Espacial Europeia (ESA) entrou para a história ao aterrar na superfície da maior lua de Saturno, Titã. Foi assim que a Humanidade levou a cabo a primeira missão de aterragem num corpo celeste no Sistema Solar exterior, às 12:34 GMT do dia 14 de Janeiro de 2005.

Durante sete anos a sonda Huygens voou com o orbitador Cassini da NASA (um pouco como aconteceu na missão Rosetta com a sonda Philae em 2014), a última etapa desta viagem interplanetária foi composta de 21 dias de solitude para a Huygens em direcção à nublada lua Titã, terminando com um mergulho de 2h e 27minutos através da atmosfera da lua.

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Primeira imagem captada pela Huygens quando aterrou em Titã a 14 de Janeiro de 2005

Durante 72 minutos a Huygens continuou a transmitir informação até as suas baterias ficarem sem carga. Informação essa que ainda hoje, dez anos volvidos continua a ser estudada e analisada por cientistas planetários e astrobiólogos de todo o mundo.

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Este gráfico mostra de forma muito simples toda a ciência que foi feita a partir de apenas uma missão que durou pouco mais de 3 horas (na superfície de Titã). A partir do que se aprendeu tão longe de “casa” muito se pode agora fazer por ela, através das informações de uma pequena sonda.

O pequeno vídeo que podem ver no final desta publicação foi feito para representar da forma mais correcta a aterragem da Huygens em Titã, foi divulgado quando se assinalou o 8º aniversário da cehgada à lua de Saturno (de notar que que até a posição e forma das rochas foram modeladas pelas fotos e informação recebida)

Mais informação:

Cassini-Huygens na ESA

Parabéns Europa

galileo_manuscriptHá precisamente 405 anos, Galileo observava 4 pontos de luz perto de Júpiter (no dia anterior apenas havia observado três e para conseguir confirmar a natureza desses novos objectos celestes, preparou nova observaçao para a noite seguinte descobrindo que um dos pontinhos se havia desdobrado em dois, confirmando assim que eram objectos celestes que orbitavam em torno de Júpiter).

Na noite de dia 8 de Janeiro de 1610, depois de fazer alteraçoes ao seu telescópio, dotando-o de uma maior capacidade de magnificaçao, Galileo conseguia agora ver nitidamente corpos celestes que até aí estavam fora do seu alcance, e assim “descobriu” Europa (descobriu as chamadas Luas Galileanas, Io, Europa (na observaçao de 7 de Janeiro Io e Europa estavam demasiado perto para que Galileo as visse como objectos separados), Ganimedes e Calisto), quase em simultâneo o astrónomo alemao Simon Marius registava a mesma descoberta. Durante muito tempo Galileo acusou Marius de plagiar o seu trabalho gerando alguma polémica.

Esta descoberta de Galileo provou a importância do telescópio como ferramenta essencial para o trabalho dos astrónomos, demonstrando que muito existia para lá do que os olhos humanos eram capazes de observar, mas mais importante ainda foi a descoberta de corpos celestes, neste caso planetas, que orbitavam em torno de outro planeta que nao a Terra. O achado de Galileo ia assim contra tudo o que se sabia sobre o Universo, cuja Teoria vigente naquela época era o Geocentrismo ptolomaico: todo o Universo girava em torno da Terra, sendo ela o seu centro.

Na altura da descoberta das Luas Galileanas, o famoso astronomo trabalhava para a influente família Medici, como tutor de matemática de Cosimo de Medici (posteriormente seria o Grao-duque da Toscana) e por isso inicialmente estas luas foram chamadas de “Estrelas de Cosimo”, mas seguindo a sugestao do seu pupilo mudou o nome para as “Estrelas Medici” para assim homenagear os quatro filhos da família Medici (Cosimo, Francesco, Carlo e Lorenzo).

Apesar da polémica Justus_Sustermans_-_Portrait_of_Galileo_Galilei,_1636entre Marius e Galileo (que como já referi anteriormente Galileo acusava Marius de plágio), os nomes que eventualmente foram adoptados foram os escolhidos pelo astrónomo alemao, que seguindo a sugestao de Johannes Kepler (astrónomo e matemático alemao) atribuiu a cada uma das quatro luas recém-descobertas o nome de amantes de Zeus (cujo equivalente romano é Júpiter)na sua publicaçao de 1614 Mundus Jovialis. [Nota: Io, Europa e Calisto eram mulheres (Europa era inclusive descendente de Io) e Ganimedes era homem]

Durante a vida toda Galileo recusou utilizar o sistema de nomes sugerido por Marius, adoptando um sistema de numeraçao, que foi utilizado em paralelo com os nomes de Marius até meados do século XX quando luas mais próximas que Io, de Júpiter foram descobertas. Os números aumentam à medida que nos afastamos de Júpiter (p.e. Io é Jupiter I e Europa II).


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Europa and the bull, depicted by Jean-François de Troy (1716)


Europa foi uma princesa fenícia, a primeira referência a ela foi feita na Ilíada de Homero. Segundo reza a lenda Europa foi raptada por Zeus, sob a forma de uma enorme touro branco levando a princesa para Creta, onde se tornaria a primeira Rainha desta ilha grega. Apesar de existirem várias versoes desta história, todas convergem num ponto, Europa é descendente da mítica ninfa Io, também ela amante de Zeus.


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Imagem captada em 7 de Setembro de 1996 pela sonda espacial Galileo.


Actualmente várias agências espaciais voltam as suas atençoes para esta Lua Galileana, olham para Europa como um dos alvos mais promissores para procurar sinais de vida no nosso Sistema Solar, com o seu oceano gelado e a sua “carapaça” de gelo que protege o interior desta lua da radiaçao planeta gasoso.

Uma vez mais Parabéns Europa e espero que nao demorem mais 405 anos até podermos ter algumas respostas para os enigmas que nos tens apresentado.

Mais informaçao:
Europa (Wikipedia)

Semana histórica para a exploração espacial

A primeira semana do mês de Dezembro de 2014, a semana 49 será certamente recordada como uma semana repleta de momentos históricos e de viragem para a exploração espacial.

Dia 3 de Dezembro – Hayabusa 2 (JAXA – Japão)

É lançada a Hayabusa 2, espera-se que chegue ao seu destino em Julho de 2018 e que regresse à Terra em Dezembro de 2019 com amostras do asteróide em que irá pousar e recolher amostras pelo menos em três ocasiões distintas, terá também um pequeno “lander” que irá recolher informações durante toda a missão.

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O asteróide-alvo desta missão ainda não tem nome atribuído, tendo para já a designação temporária de 1999 JU3, segundo o espectro da luz solar reflectida por este asteróide prevê-se que a sua composição o  coloque entre os condritos carbonáceos (da mesma família que o cometa da Rosetta). A órbita deste asteróide é bastante semelhante à órbida do asteróide Itokawa, visitado pela primeira missão Hayabusa. O 1999 JU3 tem aproximadamente 920m de diâmetro e a sua forma é aproximadamente esférica.

A Hayabusa 2, sucessora da missão Hayabusa que regressou à Terra a 10 de Junho de 2010, trazendo consigo amostras do asteróide Itokawa (um asteróide rochoso). Esta missão, é um upgrade da missão anterior, tentando assim colmatar alguns dos pontos menos positivos.

A Hayabusa 2, irá visitar desta vez um asteróide do mesmo tipo que o asteróide visitado pela Rosetta, um asteróide carbonáceo, que encerra em si preservadas as condições primordiais que os cientistas acreditam ser as que originaram o nosso Sistema Solar e as precursoras do material orgânico (daí a denominação carbonáceo, por conter carbono na sua constituição) que ajudou à origem da vida na Terra.

Mais informação:

Pequeno vídeo explicativo da missão da Hayabusa 2 (em Inglês) –> http://www.space.com/27888-ambitious-hayabusa-2-mission-aims-for-asteroid-sample-return-video.html

Hayabusa na JAXA (em inglês) –> http://www.jspec.jaxa.jp/e/activity/hayabusa2.html

Dia 4 e 5 de Dezembro – Orion (NASA – USA)

Depois de várias tentativas e de vários quase lançamentos no dia 4 de Dezembro, esgotou-se a janela de lançamento da Orion e o teste histórico ficou adiado por 24 horas devido a um problema nas válvulas de combustível do Delta IV (um problema recorrente devido ao frio).

No dia seguinte o tempo instável ameaçava provocar novo adiamento mas à medida que a hora de abertura da janela de lançamento se aproximava as condições meteorológicas foram  estabilizando: pouco depois das 7AM EST do dia 5 de Dezembro de 2014 a Orion foi lançada do Cabo Canaveral, no topo de um foguetão Delta IV para um voo experimental histórico.

ULA ORION DELTA IV

Porquê voo histórico?

Porque a cápsula espacial Orion foi construída para levar a espécie humana mais longe do que alguma vez foi tentado, substituindo assim as cápsulas usadas durante as missões Apollo. Esta nova geração de cápsulas espaciais para missões tripuladas terá capacidade para: transporte de tripulações para o espaço, LAS (Launch Abort System) sistema de emergência que permite a fuga da tripulação no evento de algo correr mal com o foguetão, meio de transporte de reentrada atmosférica e regresso à Terra.

O voo experimental da passada Sexta-Feira, que durou cerca de quatro horas e meia e efectuou duas órbitas elípticas em volta da Terra serviu para testar sistemas críticos como escudo de calor (para a reentrada na atmosfera terrestre, e que era um dos sistemas a ser testado mais crítico), o complexo sistema de para-quedas, escudos de radiação (neste teste a Orion passou duas vezes pela chamada faixa de radiação de Van Allen – local do campo magnético terrestre em que se concentram partículas altamente energéticas originárias do vento solar – sendo por isso essencial um escudo de radiação eficiente para proteger a tecnologia a bordo da cápsula e mais importante ainda, a protecção das vidas dos seus tripulantes).

Começou assim o caminho da Humanidade para Marte.

Mais informação:
Wikipédia (em inglês) –> http://en.wikipedia.org/wiki/Orion_(spacecraft)

Orion na NASA (em inglês) –> http://www.nasa.gov/orion/

Dia 6 de Dezembro – New Horizons acorda “à porta” de Plutão

Na madrugada do passado Domingo (eram 21.30h na costa este nos USA, por isso considerar neste post o dia 6 (Sábado) como o dia do despertar da sonda), chegam as primeiras comunicações da sonda New Horizons à Deep Space Network (DSN – Rede de Espaço Profundo da NASA, rede de antenas internacionais de comunicação e acompanhamento das missões espaciais).

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Depois de cerca de nove anos de viagem (maior parte deles passados em hibernação, para evitar o natural desgaste dos sistemas menos essenciais a esta prolongada fase da missão) e cerca de 4.6 mil milhões de quilómetros percorridos, a sonda New Horizons acordou. Tem ainda 261 milhões de quilómetros a percorrer até ao seu objectivo principal, mas a partir de agora pode preparar-se para iniciar as operações científicas de aproximação a Plutão (esta fase terá início em Janeiro de 2015, culminando em Julho, altura em que a New Horizons atinge o ponto da sua trajectória mais próximo do sistema de Plutão).

A passagem por Plutão será efectuada sem desacelerar a sonda, seguindo para a Kuiper Belt (anel de detritos, p.e. asteróides considerado como a “fronteira” do nosso Sistema Solar).

New Horizons no site Space.com (em inglês) –> http://www.space.com/27946-pluto-spacecraft-new-horizons-wakeup.html

New Horizons na NASA (em inglês) –> http://www.nasa.gov/mission_pages/newhorizons/main/#.VIl9h9LF-ek

Deep Space Network (Live) –> http://eyes.nasa.gov/dsn/dsn.html